segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Doação de gametas - a delicada escolha de contar ou não aos filhos


Artigo do jornal Folha de São Paulo da semana passada levanta um tema muito comentado ultimamente na mídia: a questão das crianças nascidas a partir de gametas – óvulos e sêmen – doados, por meio de reprodução assistida.

A meu ver, todas as opiniões neste campo são muito pessoais, mas quem tem mais vivência, geralmente, emite opiniões com mais sabedoria. Vou me valer dos 21 anos de vivência nesta área, para tentar emitir uma opinião... Espero que, com alguma sabedoria...

Inicialmente, como mãe, filha, neta e irmã de uma família grande e muito amorosa: não existem regras para educação dos filhos, o que vale e o que sempre valeu é o amor e a sensibilidade. Geralmente é a vida que vai nos mostrar os caminhos e é por isso, como gente, e não como médica, que eu recomendo, aos casais que me perguntam se devem ou não contar aos filhos, que não se preocupem com isso agora e que deixem a vida lhes indicar se devem ou não conversar com a criança, adolescente, ou mesmo adulto, sobre o assunto.

No Brasil, a doação de gametas é sempre anônima, no entanto, o indivíduo, na sua maioridade, se souber que foi gerado de um gameta doado, seja óvulo ou espermatozóide, tem o direito de buscar a identidade do pai ou mãe genética. Isso é um direito, independente de uma doença grave. Acho o anonimato muito sensato, já a busca pela origem genética, no meu entender, funciona mais como uma tentativa de preencher as lacunas (vazios) que a vida deixou do que propriamente uma busca de identidade.

Nesses anos todos trabalhando com Reprodução Assistida, tive contato com uma centena de casais que utilizaram tanto sêmen, quanto óvulos doados e até mesmo embriões doados. Não me lembro de nenhum que tenha rejeitado, ou se tornado infeliz pela decisão de ter filho nessas circunstâncias. Lembro bem, isso sim, de casais esfuziantes de tanta felicidade.

No entanto, não tive contato com as crianças e nenhum estudo foi conduzido, nos serviços em que trabalhei, com este público. Provalmente, porque cada família tem suas particularidades e não cabe a nós instigarmos dúvidas ou questionamentos.

Um dia saberemos da demanda dessas crianças, mas teremos que acumular o depoimento dos raros casos que necessitam desta informação.

Maria Cecília de Almeida Cardoso
Embriologista chefe do laboratório de Reprodução Humana Assistida


Pais relutam em revelar verdade a filhos gerados com gametas doados

por Cláudia Collucci


A questão do anonimato nas doações de óvulos e sêmen suscita debates éticos e jurídicos em todo o mundo.

Em países como a Inglaterra e a Bélgica, a criança tem o direito de saber sobre sua história, quando atinge a maioridade. Nos EUA, por meio da internet, jovens gerados com o sêmen de um mesmo doador já conseguem localizar os "meios-irmãos".

Mas a quebra do anonimato tem um impacto nas doações. No Reino Unido, por exemplo, clínicas de reprodução viram despencar o número de doadores de sêmen.

No Brasil, não há leis normatizando a questão, mas uma resolução do CFM (Conselho Federal de Medicina) prevê que a doação de gametas seja anônima.

Só em situações de doença grave as informações sobre os doadores podem ser fornecidas para os médicos - desde que a identidade deles seja resguardada.

A resolução também estabelece que um mesmo doador de gametas produza, no máximo, duas gestações de sexos diferentes numa área de 1 milhão de habitantes.

Mas, imaginando uma cidade como São Paulo, com cerca de 11 milhões de habitantes, isso não evitaria a possibilidade de incesto pela união de filhos de um doador.

Transparência

No âmbito privado, a maioria dos casais brasileiros que recorre aos gametas doados manifesta a vontade de não revelar isso ao filho.

Em geral, esses casais buscam um doador com características físicas e psicológicas próximas às suas, pois desejam um filho à sua imagem e semelhança.

Os próprios especialistas em infertilidade costumam desencorajar seus pacientes a contar a verdade, sob o argumento de que isso trará mais prejuízos do que benefícios à criança.

Os psicólogos discordam e dizem que o segredo pode gerar fantasias infantis ainda piores. E há médicos que lembram que a herança dos genes precisa ser conhecida para prevenir doenças futuras.

Enquanto isso, o mercado editorial nos EUA já tem livros para ajudar os pais a fazer a revelação de forma lúdica.

O fato é que os conflitos gerados no passado sobre o segredo em torno da adoção deveriam servir de lição para que o mesmo não ocorra, agora, com os filhos da reprodução assistida.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Cientistas produzem espermatozoide em laboratório com células-tronco


Recentemente foi publicada uma pesquisa anunciando a descoberta de uma maneira de produzir espermatozóides por meio de células-tronco embrionárias em laboratório. Ver notícias do portal G1. Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Kyoto conseguiu transformar células-tronco embrionárias de camundongos em células precursoras de espermatozóides, chamadas de "células germinativas primordiais" e estas, depois, foram transformadas em espermatozóides que fecundaram óvulos e geraram filhotes saudáveis.

As células-tronco, ao contrário das demais células, possuem a capacidade de se auto-replicar em cópias idênticas e de se diferenciar em diversos tecidos. Elas podem ser originadas tanto de embriões, quanto do cordão umbilical e de alguns tecidos adultos, como o sangue, por exemplo. As pesquisas com células-tronco têm se mostrado muito promissoras, com resultados já bem estabelecidos em áreas como Hematologia, Cardiologia e Neurologia.

Já no campo da Reprodução Humana, porém, as pesquisas ainda se encontram em fase pré-clínica, ou seja, ainda estão sendo usados modelos animais, não sendo permitida a aplicação em humanos. Mas, apesar disso, essa já é, sem dúvida, um motivo de grande esperança para muitos casais que sofrem com o diagnóstico de azoospermia. Esperamos que, em breve e dentro dos padrões de ética e biossegurança, as pesquisas evoluam para protocolos bem estabelecidos, que ofereçam ao homem que não produz espermatozóide a possibilidade de gerar um filho biológico.

Fernanda Couto Ferreira
Biomédica do Vida - Centro de Fertilidade da Rede D'Or