terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Como proteger grávidas e crianças contra mosquitos no verão

Foto: Photodisc/Thinkstock/Getty Images 

Nos últimos meses, o Brasil inteiro está de olho no Aedes aegypti. Isso porque, além de transmitir a dengue, ele também carrega o vírus zika, apontado como o responsável pelo surto de microcefalia que assola o país desde outubro, em especial a região Nordeste. Sabe-se que, ao infectar uma mulher grávida, o micro-organismo tem a capacidade de atravessar a placenta e contaminar o sistema nervoso central do bebê, causando a malformação cerebral. Como essa atividade do zika é inédita para os cientistas, os esforços agora se concentram em entender o funcionamento do vírus para, no futuro, trabalhar na criação de uma vacina. Mas até que isso aconteça, a melhor forma de se proteger é mantendo-se longe do inseto que dissemina esse agente infeccioso.

E essa atitude é especialmente importante durante o verão, época em que não só o Aedes aegypti mas também o pernilongo e os borrachudos tendem a circular com maior intensidade, graças ao tempo quente e úmido. "Os mosquitos apresentam baixo desenvolvimento sob condições extremas, como o frio e o ar seco, pois têm a sua atividade fisiológica reduzida", revela a bióloga Sirlei Antunes Morais, especialista em zoologia e entomologia médica pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Por isso, se você está esperando um bebê ou tem filhos pequenos e vive em áreas com proliferação desses insetos, confira o dossiê que preparamos com a ajuda de especialistas para proteger toda a sua família na temporada de calor.

Turma da pesada

Os hábitos de cada mosquito

  • Aedes aegypti: o mosquito da dengue (e que também transmite os vírus zika e chikungunya) tem hábitos diurnos, ou seja, é durante o dia que ele costuma atacar suas vítimas.
  • Culex: eis o famoso pernilongo, que concentra suas atividades no final da tarde e à noite.
  • Simulídeos: esse é o grupo a que pertencem os borrachudos, que preferem circular no fim da tarde.

A picada

"Os mosquitos se posicionam sobre as áreas mais finas da pele, pois sua visão aguçada permite enxergar a envergadura dos vasos sanguíneos", informa Sirlei. Além disso, a espessura fina da derme facilita a perfuração pelas estruturas bucais do inseto. Ao espetar o indivíduo, o bichinho injeta enzimas anticoagulantes e anestésicas - daí porque nem sentimos a picada. Isso gera uma reação no sistema imunológico, que passa a liberar histamina, um composto que tem a função de acelerar a inativação das substâncias introduzidas pelo mosquito. "Esse mecanismo causa uma cascata de reações, dentre elas a coceira e o inchaço de pele", conclui a bióloga da USP.

No geral, a picadela não ameaça a gestante e o feto - a menos que se trate do Aedes aegypti ou de outro mosquito que transmita doenças. O problema é que as crianças não resistem e coçam as áreas afetadas, por isso é importante ficar atento ao risco de infecções. "O ato de coçar pode acabar causando uma lesão. E a gente sabe que, mesmo quando a criança está limpinha, existem bactérias na pele e nas unhas. E aí, pode infeccionar o local", alerta o infectologista Francisco Ivanildo Oliveira Junior, do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo.

Uma vez que a grávida ou o bebê foi picado, a recomendação é lavar com água e sabão, durante o banho mesmo. Compressas frias podem reduzir a dor e o inchaço. "Para aliviar a coceira intensa, as gestantes podem recorrer a cremes tópicos, como loção de calamina ou aquelas que contêm aveia coloidal", prescreve a dermatologista Adriana Salgado, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). No caso dos pequenos, o melhor é consultar o pediatra - nada de aplicar medidas caseiras! "Dependendo da gravidade, o médico pode indicar alguma pomada com corticoide ou dar um antialérgico por boca", diz Oliveira.

Mundo dos repelentes

Princípios ativos

  • Piretroide: ele está presente nos repelentes de tomada e nos inseticidas em spray. Sua ação é direta no sistema neuromotor do inseto e também no olfato e no senso de direção. "O mosquito se afasta ao captar a presença de 'perigo' no ar", esclarece Sirlei Morais.
  • Icaridina: alguns produtos em creme ou em gel contêm essa substância, que age confundindo o olfato do bicho e atrapalhando, assim, a busca por sangue. "Mas os estudos sobre esse princípio ativo ainda estão em fase de desenvolvimento no Brasil", adverte a bióloga.
  • DEET: é a sigla para um composto sintético chamado dietiltoludamida, a base da maior parte dos repelentes em forma de loção. "O DEET interfere nos receptores sensoriais dos mosquitos, inibindo os mecanismos de atração química durante a procura por alimentação de sangue", explica Sirlei. Assim como a Icaridina, é recomendado para os maiores de dois anos de idade.
  • IR 3535: trata-se de um sintético produzido a partir de várias substâncias. A uma concentração de 30%, é a única substância permitida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para crianças acima de seis meses. Ao lado do DEET, é considerado um dos melhores repelentes.  

Os tipos

Loção
Grávidas e crianças podem, sim, passar repelente na pele. "Os produtos de uso tópico, à base de DEET, com concentração entre 10 e 50%, são considerados seguros para as gestantes em todos os trimestres", assegura Adriana. Quanto aos outros princípios ativos, o melhor é conversar com o obstetra para saber a forma correta de usar.

No caso dos pequenos, vale bater um papo com o pediatra antes de besuntar o filhote. Isso porque, de acordo com a regulamentação da Anvisa, esses itens estão autorizados apenas para os maiores de 2 anos de idade - inclusive as versões infantis. No entanto, dependendo da situação, pode ser que o médico libere o produto para os mais novos. "Se a criança não é alérgica, se ela vive em uma área em que os mosquitos circulam e se estamos em um momento em que a probabilidade de ser picado é maior, aí a gente faz uma avaliação do risco-benefício de indicar o repelente", pondera Oliveira. Ele lembra que, nos Estados Unidos, a Academia Americana de Pediatria permite o uso desses produtos em bebês a partir de 2 meses de vida. E é claro que estamos falando das versões desenvolvidas especificamente para crianças! 

Cuidados
Tanto as gestantes quanto os baixinhos devem repassar o produto quando acabar o tempo de duração indicado no rótulo. "O número máximo de aplicações por dia também deve ser respeitado, conforme orientação na embalagem", pontua Adriana Salgado. O ideal é aplicá-lo em toda a área do corpo que estará exposta. A meninada merece uma atenção extra. "Não deixe a criança colocar o repelente sozinha e não use o produto na pele irritada ou infeccionada", orienta o pediatra José Gabel, secretário do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Primeiros Cuidados da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP). Evite também passar o creme em áreas próximas a olhos, boca, narinas e genitais.

Tomada
Está autorizado colocar esse tipo de repelente no quarto da grávida e do bebê. Apenas se certifique de que o ambiente está bem ventilado (até para os mosquitos poderem ir embora) e procure não colocar o aparelho muito perto do berço. "Lembrando que ocorrerá um ressecamento das vias aéreas, que pode ser minimizado com uma bacia de água no quarto", indica o ginecologista e obstetra Alberto D'Auria, do Hospital e Maternidade Santa Joana, na capital paulista.

Inseticida
Dê preferência àqueles à base água. Outros solventes podem ser tóxicos tanto para as crianças quanto para os bebês das grávidas. "O ideal é não colocar imediatamente antes de ir dormir", orienta Francisco Oliveira, que também é infectologista do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo. Procure espirrar o produto no quarto uma ou duas horas antes de você ou o pequeno se deitar. E se o seu filho tiver menos de 2 anos, não use esse tipo de repelente.  

Outras saídas

Roupas
Embora os mosquitos tenham a capacidade de picar através de tecidos, o uso de calças compridas e de blusas de mangas longas é uma barreira a mais para esses insetos inconvenientes. Apostar em tons claros é uma boa pedida. "É que eles se direcionam melhor para alvos escuros. Alvos claros têm uma maior reflexão de luz e isso confunde um pouco a visão deles", ensina Sirlei. Não é necessário passar repelente embaixo das roupas, aplique apenas nas áreas expostas.

Telas e mosquiteiros
Eles são ótimos para proteger recém-nascidos e crianças pequenas. "As tramas devem ser finas, capazes de boa ventilação e impedir a passagem do inseto", indica José Gabel, da SPSP. Mas é necessário se atentar a algumas medidas de segurança, principalmente no caso dos mosquiteiros. "Ele deve estar a uma altura que o bebê não consiga alcançá-lo, além de não ficar dentro do berço, para prevenir estrangulamentos", orienta o pediatra.

Ventilador e ar condicionado
O ar gelado repele os mosquitos. Por isso, recorra ao ventilador e ao ar condicionado sempre que possível - mas sem exagero!

Não acumule água
Os mosquitos se reproduzem na água. Portanto, nada de juntar umidade em pneus e vasos de plantas, por exemplo. Ah, e não se esqueça de cobrir a piscina e a caixa d'água! 

Evite usar perfumes fortes
Pernilongos, borrachudos e o próprio Aedes são atraídos por cheiros marcantes. E isso vale tanto para aquele creme ou perfume que você adora quanto para a colônia do filhote.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Estados Unidos se preparam para realizar os primeiros transplantes de útero do país

Foto: Getty Images

Antes restritos a salvar vidas, os transplantes de órgãos agora podem melhorar a qualidade de vida e a realizar o sonho de muitas mulheres. Dentro de alguns meses uma equipe de cirurgiões da Cleveland Clinic espera se tornar o primeiro hospital nos Estados Unidos a transplantar um útero em uma mulher para que ela possa engravidar e dar à luz. 

As pacientes escolhidas deverão ser mulheres que nasceram sem útero, que por motivos médicos precisaram remover o órgão ou que sofreram danos uterinos.

É importante dizer que o transplante não será definitivo. O útero deverá ser removido após a concepção de um ou dois bebês. A remoção é necessária para que a paciente possa interromper o uso dos medicamentos antirrejeição.

O doutor Andreas G. Tzakis, a força motriz por trás de todo projeto, explicou o que motivou o início das pesquisas. "Há mulheres que não adotam por razões pessoais, culturais ou religiosas. Essas mulheres sabem exatamente do que o transplante se trata. Elas estão informadas dos riscos e benefícios. Elas têm, na verdade, muito tempo para pensar sobre isso. Nosso trabalho é tornar o processo tão seguro e bem sucedido possível", disse ao New York Times.

Até agora, a Suécia é o único país onde os transplantes de útero foram concluídos com sucesso. O experimento foi realizado na Universidade de Gotemburgo com um útero de um doador vivo. Nove mulheres receberam transplantes - quatro já deram à luz, a primeira em setembro de 2014. Todos os bebês nasceram saudáveis, embora prematuro. Dois transplantes falharam e tiveram que ser removidos. Duas tentativas anteriores - uma na Arábia Saudita e outra na Turquia - falharam. 

Apesar da polêmica em torno do uso de drogas antirrejeição durante a gravidez, a  equipe de Cleveland está segura de que as taxas de complicações serão muito baixas.  Tzakis passou um longo período pesquisando casos de milhares de mulheres com rins ou fígados transplantados e que continuaram tomando os medicamentos antirrejeição durante a gravidez. A maioria esmagadora tinha dado à luz bebês saudáveis. 

Para evitar colocar em risco doadoras saudáveis, os transplantes serão feitos com órgãos de falecidas. Assim, não há necessidade de se preocupar com os ferimentos e o órgão pode ser removido mais rapidamente.

Para serem elegíveis, as candidatas devem estar em um relacionamento estável, porque vão precisar de ajuda e apoio.Eles também devem ter ovários. A fase inicial inclui triagem de transtornos psicológicos ou problemas de relacionamento que possam interferir com a capacidade da candidata para lidar com um transplante e ser parte de um estudo. 

Uma vez que as trompas de falópio não serão ligadas ao útero transplantado, uma gravidez natural será impossível. Todos os receptores vão passar por fertilização in vitro.

Uma das principais candidatas ao transplante-teste conversou com o jornal sobre sua expectativa. Seu nome foi mantido em sigilo por pedido da paciente. Em entrevista à publicação ela revelou que tinha apenas 16 anos quando descobriu que a ausência de menstruação era causada por uma má formação. Ao nascer ela possuía ovários, mas não útero. Devastada com o diagnostico, ela nunca desistiu de realizar o sonho de ser mãe.  Com os avanços médicos, a possibilidade do transplante soou como um lampejo de esperança.

Veja a matéria no portal M de Mulher.